Alberto J. Muniagurria
Indigestão é definida como uma síndrome composta por um conjunto de sintomas e sinais, caracterizada por distensão abdominal, plenitude gástrica, eructação, às vezes em estado de náusea, azia e leve dor epigástrica ou na região periumbilical.
A indigestão pode ocorrer como consequência de uma doença do sistema digestivo ou de outros dispositivos ou sistemas.
É frequente não se encontrar uma causa orgânica que explique este conjunto sintomático, sendo atribuído nessas circunstâncias a alterações psicossomáticas, como ansiedade, fadiga, depressão e stress emocional.
Uma causa frequente de indigestão é a ingestão excessiva ou produção intestinal de gases pela ação de bactérias sobre carboidratos e proteínas. 20 a 60% dos gases digestivos vêm da deglutição de ar (aerofagia).
Causas da indigestão
Divididas em psicossomáticas e orgânicas, e estas por sua vez, digestivas e sistêmicas, estão listadas na tabela a seguir.
Causas de indigestão
- Psicossomático
Ansiedade, depressão, estresse emocional
- Orgânica
- Sistema digestivo
- Esôfago:
- Hérnia de hiato
- Acalasia
- Gástricas e duodenais:
- Gastrite
- Úlcera
- Carcinoma
- Intestinais
- Doença de Crohn e colite ulcerosa
- Linfomas
- Doenças mal absorção (deficiências lactase, esprue)
- Carcinomas
- Insuficiência arterial mesentérica
- Alergia intestinal
- Parasitoses
- Hepatobiliares
- colecistite
- Colelitíase
- Hepatite
- Cirrose
- Pancreática:
- Pancreatite
- Carcinoma
- Insuficiência cardíaca
- Insuficiência Renal
- Tuberculose
- Diabetes
- Insuficiência Coronária
- Doença de Addison
- Hipotireoidismo
- Hiperparatireoidismo
- Doença pulmonar obstrutiva crônica
Interrogatório de síndrome
Características e localização da dor. A dor geralmente é maçante e difusa, e é descrita como plenitude, distensão abdominal, pressão, desconforto, etc.
Quando sua localização é subesternal, sugere patologias de origem cardíaca, esofágica ou cardíaca. Se o desconforto for referido ao epigástrio, pode originar-se em processos cardíacos, hepatobiliares, pancreáticos ou gastroduodenais. As dores hepatobiliares tendem a se localizar no hipocôndrio direito e sua propagação é para a direita e a escápula. As de origem pancreática se espalham para a esquerda e para trás. Quando a dor se localiza na região periumbilical, corresponde ao intestino delgado. Quando infraumbilical, origina-se do apêndice, do intestino grosso ou dos órgãos pélvicos.
Relação dos sintomas com diferentes circunstâncias. A dor pode ser constante, como no câncer gástrico, ou intermitente, como na gastrite, noturna como na úlcera duodenal, decúbito como na hérnia de hiato, ou sazonal como em certas úlceras pépticas, ou pode estar relacionada à ingestão de alimentos. Os sintomas podem surgir minutos após a ingestão, sugerindo doenças esofagogástricas, ou horas após o término, o que sugere dificuldade no esvaziamento gástrico (estenose pilórica), úlcera duodenal ou insuficiência pancreática. Quando os sintomas melhoram ou desaparecem com a ingestão de alimentos ou antiácidos, costumam indicar gastrite ou úlceras.
Distensão abdominal pós-prandial: quando a distensão cede com arrotos, é característica de aerofagia. A dor causada pelo inchaço agudo do estômago pode ser intensa e causar confusão com dor coronariana. A aerofagia é geralmente um hábito, embora possa estar associada a doenças orgânicas. As dores ou desconforto do hipocôndrio esquerdo que às vezes irradiam o ombro homolateral e são aliviadas com a retirada dos flatos, são características da síndrome do ângulo esplênico (acúmulo de gás no ângulo esplênico do cólon). As dietas ricas em carboidratos são caracterizadas pela produção de flatulência.
Relação dos sintomas com o tipo de alimento. Deve-se questionar minuciosamente o tipo de dieta alimentar e sua associação com o aparecimento de sintomas (leite, glúten, etc.), bem como a ingestão de medicamentos (ácido acetilsalicílico, butazolidina, etc.).
Metodologia do estudo
Dada a inespecificidade e as múltiplas causas capazes de dar origem a esta síndrome, frequentemente motivo de consulta a pacientes psicossomáticos, faz-se necessária uma avaliação abrangente do indivíduo, utilizando o bom senso na seleção dos métodos de investigação, para não realizar ou repetir estudos desnecessários e caros. Simultaneamente, deve-se levar em consideração que pacientes psicossomáticos podem ser portadores de uma patologia orgânica.
- História médica cuidadosa.
- Laboratório: exame de matéria fecal (gorduras, fibras, leucócitos, eosinófilos, sangue oculto, parasitose, cultura).
- Ecografia abdominal e pélvica para avaliação da bolha gástrica.
- Estudos contrastantes do esôfago, estômago, intestino delgado e grosso e dutos biliares.
- Exames endoscópicos em casos selecionados.
- Em situações especiais, estudos especializados serão realizados em busca de doenças de má absorção sistêmica.